segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A vida perdeu mais um




E era como a dor,
Da ferida que não cicatriza
E o sangue misturado ao pus fétido,
Uma sensação de nojo
Afastam os narizes delicados
E vejo os urubus sobrevoando minha carcaça.

Como em uma dança da morte
Eles rodeiam meu corpo exposto,
Como uma dança infernal eles rodeiam minha carne
E como chuva descem todos,
Animais mal-cheirosos,
Rasgam a carne
E devoram cada vez mais,
Não há o medo da reação da presa.


E era como a dor!
Não haverá sobremesa.

E era a dança da morte!
Um balé aéreo
Que finda com um banquete do corpo novo,
Nu!

Rodeado pela morte alada,
Bicos afiados,
Sangue,
Tripas,
Gracejos reclamam por haver apenas um rim.

E não há terra no rosto,
Nem parentes e amigos
Velando o corpo morto.

O banquete dos seres alados,
Sem pressa,
Sem preces
E sem último recado,
As últimas palavras foram uns palavrões mal pronunciados.


E era como a dor de não ser casulo,
Apenas um corpo sem valor nenhum.
Do material ao surreal sem uma explicação formal.

O ciclo alimentar devorou mais um,
Na revoada da morte,
O prato principal,
Revoada de partida,
Cheios, empanzinados.
A dor do morto na barriga de cada um.


Diogo Ramalho



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