terça-feira, 17 de março de 2015

Ser argila

A chuva fina,
O céu nublado em um misto de laranja e lilás.
Na correria frenética do presente
Me sinto em dívida com o passado,
Como se faltasse o gran finale,
O jogar da última pá de terra,
O show pirotécnico que com seus fogos e pólvoras carbonizará meu coração.
A chuva cai fina
E a lama nos sapatos deixam pegadas no asfalto molhado.
Sou como cada pegada que deixei
O sereno dissolverá toda areia
E ao amanhecer não restará nada,
Apenas um sapato enlameado na porta de uma casa qualquer.

E assim a gira não cessa,
Aconteceu, vai acontecer, já está acontecendo.
Simples como olhar o céu
E percebe-lo azul sobre nossas cabeças,
Óbvio como a água que mata a sede.

Mudam-se os coadjuvantes,
Mas o velho enredo permanece
E aos olhos de todos as únicas coisas incertas são a previsão do tempo
E esse tom de lilás da noite.

A noite é longa
E os fantasmas que por ela vagam já não impõe medo
São sempre os mesmos múrmuros,
Eco de uma decadência passada que impregna o ar
Enferrujando a imagem de um futuro relevante

Não viu a oportunidade?
Tudo está diante de seus olhos,
Mas fazem jogos por baixo dos panos,
Fazendo a história de rosto coberto
E ainda querem impedir que usemos máscaras.

Há um novo ato,
Um último ato.
Os ventos do passado causam frio
Tudo no desenrolar para o desfecho
E a chuva fina continua a cair
Cortando seu barato com uma frase no canto.




...Continua na próxima edição!





Diogo Ramalho