quarta-feira, 24 de julho de 2013

O Rei bobo



Por trás de muralhas ditas intransponíveis dorme no mais sossego dos sonhos,
Uma princesa às avessas.
Dias a fio berra por socorro e escabrosos palavrões,
Fazendo com que príncipes pomposos fujam,
Mas não fogem apenas por isso.
O guardião da princesa causa temor,
Impondo uma condição a quem se atrever a derrotá-lo.
A condição é ter o peito magicamente aberto para nele verter os mais nobres sentimentos,
Levando-o a um passo da iluminação,
Senhor do desapego material,
Perseguidor de homens violentos.

Nenhum cavaleiro ousa derrotar quem há tempos vela e protege o sono da bela donzela,
O melhor dos guardiões,
O amor!
Além de proteção ele cura dores,
Cicatriza feridas e traz luz a um mundo vil.

Nenhum dos corrompidos cavaleiros se atreve a se tornar um herói legítimo,
Sobrando ao bobo da corte assumir o papel de protagonista,
Derrotar a quem nunca temeu,
Nem precisou lutar,
Apenas ajoelhou-se e se entregou a mística condição.

Subir a torre foi quase eterno,
Uma escadaria que parecia não haver fim.
Surpreendentemente encontrou em locais diferentes dois esqueletos de outros valentes.
Cansou e cambaleante conseguiu chegar ao final.
Encontrando sua nova amada no umbral da sacada,
Esperando...

O bobo que de bobo não tinha nada, nem pensou em descer,
Dias de gozo se passaram,
Alimentando a chama até então dormente,
Criando o milagre da gestação no coração do casal,
Filhos do amor,
Que mutou os dois.

Ganharam asas e da gigantesca torre já poderiam sair sem dificuldades,
Caminharam os dois de mãos dadas até a sacada
E sem receio jogaram-se,
Entregando-se a um lindo vôo,
Por entre nuvens,
Altas montanhas.

Descobriram um vale bem escondido entre cumes e precipícios,
Tudo muito cheio de neve que apenas rodeava as montanhas,
Atingindo sutilmente o vale.
As nuvens de forma caprichosa se abriam,
Aquecendo e dando luz ao lugar.
Ali fundaram um reino,
Onde só quem era eleito por ser honrado e portar nobreza no coração
Merecia morar em tão perfeito local.
Servindo ao mais digno dos reis,
Um rei que nem castelo tinha.
Riqueza?
Muita...
Era rico por não querer se-lo.
A sala do tesouro ficava aberta, sempre,
Pois ouro, prata e pedras preciosas não interessam
Quando a maior das riquezas se encontra no coração.




Diogo Ramalho

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